APRESENTAÇÃO

Este portal é fruto da Plenária dos Movimentos de Base realizado no Congresso da Classe Trabalhadora (CONCLAT), nos dias 05 e 06 de junho de 2010 na cidade de Santos. O Fórum tem como objetivo organizar a luta dos trabalhadores pela base e por isso se constitui com ativistas, militantes, oposições e organizações por local de trabalho, estudo e moradia. Suas ações são pautadas no classismo e na solidariedade de classe, de modo a romper o legalismo e o corportivismo. Tal Fórum compreende a necessidade de um movimento de oposição pela base que seja anti-governista, combativo e classista, ou seja, não concilie com o governismo e lute pelo fim da estrutura sindical (imposto sindical, carta sindical e unicidade sindical).

“A emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores”

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Relato de Invasão de Fazendeiros na FUNAI (Campo Grande - MS).


         Em 19 de novembro deste ano, véspera do dia da Consciência Negra, o agronegócio confirma sua ferocidade antiindígena durante invasão da Funai em Campo Grande/MS. Enquanto setores paragovernistas acusam o governo federal de omissão no que tange a demarcação das terras indígenas, nós afirmamos: tal morosidade é deliberada, intencional e coerente com a política neo-desenvolvimentista imposta em favor da velha oligarquia rural consorciada com multinacionais da agroindústria.

Solidarizamo-nos com os povos indígenas na luta pela terra e exigimos imediata devolução de seus territórios! VIVA A RETOMADA!!!

             Solidarizamo-nos, também, com os funcionários da Funai – concursados ou não - que, distintamente da alta burocracia do Estado, enfrentam no cotidiano de trabalho intenso assédio moral e ameaças por parte do latifúndio/agronegócio e seus burocratas, sob condições precárias de trabalho (dado o proposital sucateamento daquela autarquia) e perda progressiva de direitos trabalhistas.
          Urge que este setor rompa com o sindicalismo de Estado e com o governismo, a fim de construir formas eficazes de luta e autodefesa, necessariamente orientados em favor da luta pela terra. Obviamente, reconhece-se que tal condição não se compara ao sofrimento dos povos indígenas, mas a luta de uma fração da classe trabalhadora não pode se alhear da luta pela terra, pois o inimigo é um e a guerra é a mesma.

PELA AUTODETERMINACAO DOS POVOS INDIGENAS! VIVA À RETOMADA! 

PELO AUTOGOVERNO DA CLASSE TRABALHADORA!

CONSTRUIR AS AUTO-DEFESAS DOS TRABALHADORES URBANOS E RURAIS, POVOS INDÍGENAS, QUILOMBOLAS E CAMPONESES!

VIVA A ALIANÇA CAMPO E CIDADE ! AVANTE A LUTA POR TERRA E LIBERDADE!



Segue relato* sobre a invasão dos fazendeiros à Coordenação Regional da FUNAI em Campo Grande-MS

            Um dia após o anúncio do início das doações de cabeças de gado para a realização do leilão que pretende arrecadar fundos para a contratação de milícias para promover o genocídio indígena no MS (como se a contratação de empresas de capangas já não fosse uma prática arraigada entre os autoproclamados produtores deste Estado), os latifundiários decidiram começar a dar provas de seu poder de fogo e de sua certeza de impunidade. Enquanto alguns deles se reuniam com o Governador André Puccinelli e demais representantes políticos do agronegócio, para acordar os detalhes da viagem que farão a Brasília, no próximo dia 21, com o objetivo de pressionar o Governo Federal em relação à questão fundiária, outros, acompanhados por centenas de pequenos produtores, oriundos em sua maioria do sul do Estado – cooptados por alienação ou por interesses escusos - ocuparam o prédio da Coordenação Regional da FUNAI na capital e fecharam a Rua Maracaju, onde se localiza a Fundação, por aproximadamente quatro horas.
         Os servidores trabalhavam, por volta das 08:30, quando visualizaram o início da aglomeração em frente ao prédio. Antes que tivessem tempo de ao menos entender o que se passava, um grupo de dezenas de fazendeiros tomou a recepção, na tentativa de forçar a entrada. Os funcionários passaram, então, a ouvir constantes ataques verbais e provocações que se dirigiam tanto ao Órgão, quanto insultos pessoais e de baixo calão. A situação se agravou no momento em que se propôs ao grupo que dessem prosseguimento à manifestação na rua, mas desocupassem a portaria. Os ânimos se exaltaram e, com gritos de “vamos invadir igual os índios fazem nas nossas terras”, empurrando quem estivesse no caminho, ocuparam todo o corredor de entrada do térreo.
        Sobretudo a partir desse momento, ficou evidente que os pequenos produtores estavam sendo utilizados como mera massa de manobra pelos latifundiários. O discurso previamente combinado se pautava pela suposta defesa dos direitos daqueles frente aos “abusos cometidos pela FUNAI e pelas ONGs”, que, conforme os proprietários do Estado seriam as responsáveis pelas retomadas promovidas legítima e autonomamente pelos povos indígenas. O fato que esses pequenos produtores, chacareiros e sitiantes parecem ignorar é que o agronegócio monocultor, exportador, concentrador de terras e renda, financiado pelas transnacionais fabricantes de agrotóxicos, que vem há décadas promovendo o sistemático assassinato de lideranças indígenas e de qualquer um que se oponha aos seus interesses, em sua infinita necessidade de acumulação de capitais, é também inimigo da pequena propriedade rural. Estes homens e mulheres, verdadeiros trabalhadores do campo - assim como assentados, indígenas, quilombolas e ribeirinhos - que hoje se posicionaram ao lado dos latifundiários, correm o grande risco de se verem igualmente engolidos pelo latifúndio, restando-lhes apenas a alternativa de migrarem para as periferias das cidades ou se transformarem em sem-terras.Daí, sim, o Brasil verá a sua classe produtora arruinada, pois não é à base dos grãos e das comoditties exportadas pelo agronegócio que a nação se alimenta, mas com os produtos semeados nas pequenas e médias propriedades.
              As agressões não pararam: servidores, indígenas e não indígenas, indignados com as falas falaciosas e ofensivas contra os povos originários, tentaram em vão argumentar razoavelmente, sendo quase agredidos fisicamente; um indígena Terena que prestava declarações a uma equipe de televisão por pouco não foi atingido por uma garrafa térmica manejada por um fazendeiro de Laguna Caarapã, na intenção de impedir que a entrevista ocorresse; o mesmo fazendeiro, ao ser interpelado verbalmente por um servidor por conta de sua atitude violenta, tentou quebrar o equipamento de vídeo que este portava. Sucederam-se ainda diversos discursos de incitação a ações de retaliação aos indígenas e aos defensores de seus direitos, sempre ao som do Hino Nacional, repetido à exaustão, como manda a etiqueta de qualquer manifestação fascista que se preze.
             Merece destaque também o comportamento das forças policiais durante o ocorrido. Menos de dez agentes da Polícia Militar foram deslocados para garantir a integridade dos servidores e se portaram de maneira bem distinta daquela a que a sociedade está acostumada quando o assunto é coibir manifestações populares: nada de Tropa de Choque, nada da truculência, balas de borracha ou spray de pimenta. O que se viu foi uma atitude de quase camaradagem com os invasores (permito-me aqui lançar mão do jargão dos donos do poder) ou até mesmo um certo tom de respeito silencioso aos nobres donos do Estado.
            Resta questionar qual teria sido a atitude dos mantenedores da Lei e da Ordem se, no lugar de um protesto organizado por milionários, tivéssemos uma manifestação de indígenas, sem-terras, ou quaisquer outros grupos que não detenham o poder econômico. Os Amarildos e Oziéis, que insistem em cometer o hediondo crime de nascerem pretos, pobres e índios nesta democracia de gangsters, poderiam dar resposta a essa indagação, caso já não estivessem eternamente silenciados.
            A “manifestação pacífica”, conforme a qualificou a mesma imprensa que costuma chamar de vândalos e baderneiros os trabalhadores e estudantes que saem às ruas em oposição às verdadeiras injustiças sociais, teve fim por volta das 13:00h, com a desocupação do prédio e o final antecipado do expediente para os servidores.
           O recado dado nessa manhã de ignorância, bestialidade e covardia foi bastante claro: eles sabem muito bem que são os donos das terras, do dinheiro, da mídia e de boa parte do Governo – que, só neste ano, destinou cento e trinta e seis bilhões de Reais para engordar os bolsos do latifúndio, via Plano Safra, enquanto deixa a FUNAI à míngua com orçamentos cada vez mais diminutos - e sua capenga Justiça, e não descansarão até que todo o país se transforme em terra arrasada por sua monocultura devastadora
           Aos que se opõem a tal plano, restam duas opções: continuar com seus discursos de panos-quentes, concordando com a estúpida política de conciliação de classes adotada pelo Governo burguês, ou assumir a tarefa da resistência e da luta frente às violações praticadas em nome do desenvolvimentismo capitalista.


Campo Grande-MS, 19 de novembro de 2013

*O relato acima foi redigido por pessoa que estava presente no local durante os acontecidos, mas prefere não se identificar por questões de segurança
 
segue link de vídeo de fazendeiros destilando seu ódio e preconceito contra os indígenas.