O
Levante
Popular de Junho de 2013, ou a Revolta do Vinagre, demonstrou a
recusa das massas ao sistema político burguês, ou seja, a toda a
democracia burguesa e à centralização do poder que tem favorecido
cada vez mais as frações das classes dominantes: banqueiros,
empresários, juízes, militares e políticos. A pseudo democracia
brasileira sempre foi restrita e tutelada pelo poder militar e
policial. Essa democracia para cima (para burguesia, para a
aristocracia sindical e partidária) é a ditadura para as frações
empobrecidas do proletariado urbano (os moradores de favelas,
subúrbios e estudantes), para o campesinato e povos indígenas.
O
levante popular demonstrou todo esgotamento da burocracia sindical e
dos partidos eleitorais da esquerda, que ficaram paralisados ou
procurando dirigir o movimento com seu “pacifismo” e legalismo. O
fato de atos não serem efetivamente dirigidos em seu momento máximo
por nenhuma força política fez com que ganhassem pouco a pouco o
caráter combativo e depois de levante.
Esse
levante só foi possível porque o movimento foi construído fora dos
espaços delimitados pela ordem, ou seja, o partido político e o
Estado. Se juntaram os grandes monopólios da mídia, a direita e a
esquerda oficial para condenar a tomada da Assembleia Legislativa do
Estado do Rio de Janeiro (ALERJ), no dia 17/06. Isso demonstra o
quanto a esquerda institucional está moribunda e completamente
desconectada da luta popular mais combativa. A despeito da posição
dos partidos, as manifestações mostraram a redescoberta da ação
direta, da autodefesa das massas (ilustrada pelos escudos, máscaras,
óculos e, principalmente, pelo vinagre, para enfrentar a violência
policial).
Desde
o final do governo Lula as lutas se intensificaram pelo país, greves
que assustaram as direções sindicais, como a greve dos professores
do Estado do RJ em 2011 e a greve dos servidores públicos em 2012. O
movimento camponês, indígena e quilombola resiste às grandes obras
de desenvolvimento do governo federal que ameaçam suas vidas. Os
trabalhadores das grandes obras (Pecem, SUAPE, Jirau, Santo Antonio)
se rebelaram. O governo novamente apostou na repressão via Força
Nacional de Segurança e tentativa de cooptação pelas velhas
direções burocráticas do sindicalismo de Estado. A Revolta do
Vinagre possivelmente foi só o começo de novos protestos e
movimentos.
O
assassinato de camponeses, quilombolas e indígenas no campo, os
megaprojetos, o favorecimento do agronegócio, o massacre do povo
negro nas favelas e periferias, os problemas na saúde, educação e
no transporte público e os megaprojetos para Copa Mundo e Olimpíadas
- com gastos exorbitantes favorecendo os empresários e políticos -
foram os principais elementos gestadores do Levante Popular. A sua
grande explosão acontece com o aumento do custo de vida dos grandes
centros urbanos, sendo o estopim para a revolta o aumento das
passagens e a brutal repressão policial.
O
PT tentou ainda jogar o medo diante de um fascismo, que para eles
estava representado nos atos pela bandeira nacional e pelo grito de
“sem partido”. Fracassada esta tentativa de contenção e
desmobilização, o partido apresentou o programa dos cinco pactos
nacionais e de uma constituinte. Depois foi a vez de retomar a
prática do lulismo: negociação com o movimento social e sindical e
partidos políticos.
Mas
as palavras de ordem na rua querem mais que esse pacto. Elas apontam
para uma crítica do neoliberalismo e do Estado Penal-Policial. É
uma resistência à contínua centralização do poder por meio da
democracia representativa. As reivindicações são
anti-capitalistas, anti-sistêmicas e contra o Estado, o que se
expressa na sua recusa à subordinação aos partidos político
eleitorais. As ruas querem transporte público, saúde pública (o
SUS) e educação pública - ao invés de carros particulares, plano
de saúde e escolas privadas. As ruas pedem o fim da PM e não “mais
polícia”.
Por
isso é preciso:
1)
Impulsionar a formação de comitês de mobilização por local de
estudo, trabalho e moradia (comitês de bairro, de universidade, de
fábrica que tenham a plataforma de lutar pelo passe livre, em defesa
do direito de auto-organização dos trabalhadores e de um programa
mínimo classista e popular).
2)
Garantir assembleias de base regulares para discutir a política dos
atos, seus objetivos e programas. Todo poder deve pertencer às
assembleias e comissões de base.
3)
Um programa de reivindicações imediatas para orientar as discussões
no sentido de um internacionalismo popular para unificar as lutas
econômicas e anti-militaristas, recusando os pactos como formas de
enganar os trabalhadores.
Intensificar
a mobilização é nossa maior tarefa!
ASSINAM:
Rede
Estudantil Classista e Combativa (RECC)
Oposição
de Resistência Classista – Educação RJ
Grupo
de Discussão de Oposição para Educação Federal
Grupo
de Luta Petroleiro (GLP)
Um comentário:
O povo brasileiro sempre se manifestou. Nunca esteve adormecido. O indígena, o africano da diáspora, o camponês, o quilombola, o operário estão a muito de pé combatendo. Preferindo morrer a se ajoelhar. A História do Brasil está coalhada de sangue combativo. A tal da Classe Média se manifestou nesse mês de junho de 2013 meio que assustada com sua própria burrice. Percebe, a contragosto, o imbróglio em que se meteu nas últimas décadas: pagar duas ou três vezes pelos mesmos serviços em troca de uma ilusão - a de se pensar imune aos problemas da classe trabalhadora, que avança em conquistas.
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