A ocupação da reitoria eclodida após uma brava e vitoriosa
ação de resistência estudantil em defesa da autonomia universitária, que
colocou para correr para fora do campus um pelotão inteiro do choque da PM
junto com um contingente de vinte homens da Policia Federal, terminou de
maneira prematura e vergonhosa nessa sexta-feira. E, por ironia, em um dia histórico
de resgate da luta combativa dos estudantes no Brasil. Foi no dia 28 de março
de 1968 que um dos inúmeros ataques contra a autonomia universitária no período
da ditadura resultou no assassinato do estudante secundarista Edson Luís, que
participava de uma manifestação no Restaurante Central dos Estudantes no Rio de
Janeiro. Porém, ao contrário do resgate combativo feito nesse dia por
estudantes em várias universidades do Brasil, através da realização da Semana
Nacional Classista e Combativa que na UFG ocupou a reitoria e que no rio de
janeiro realizou uma manifestação secundarista que enfrentou dura repressão
policial sem dar um passo atrás, o que se viu na assembléia que decretou a desocupação
imediata do prédio da reitoria da UFSC foi a ação de uma militância estudantil
comprometida com a desmobilização e com a burocratização do movimento.
Reprisando o
peleguismo visto na ocupação da reitoria da USP em 2011, que também iniciou devido
a uma ação arbitraria realizada pela policia dentro do campus, na UFSC o PSTU,
através da ANEL, se empenhou desde o inicio do processo em tomar as rédeas do
movimento guiando o mesmo para desmobilização total e, assim como na USP, obteve
novamente sucesso. Nesses quatro dias de ocupação, a burocracia estudantil
aparelhou as mesas das assembléias, desgastou os estudantes puxando várias
assembléias intermináveis e propagou o terror difundindo a falsa informação de
que havia uma mega operação armada para desocupar o prédio da reitoria. Ao contrario
da USP em 2011, não houve sequer um pedido de reintegração de posse por parte
da reitoria e muito menos investida da policia contra a ocupação. Até a última
assembleia, a “única ameaça” era um ato chamado pela direita que mobilizou
cerca de 50 pessoas, cujo objetivo era reerguer no mastro em frente ao prédio
da reitoria a bandeira nacional que havia sido substituída por uma bandeira
vermelha.
Era explícito para boa parte dos estudantes, que havia um
acordo entre o PSTU, PSOL, JCA e a reitoria para acelerar o fim da ocupação (pois se não desocupasse na sexta-feira, a
mesma se estenderia automaticamente até segunda e a exposição midiática
continuaria). Os discursos de todas essas forças estavam alinhados em amedrontar
os ocupantes, se valendo da falsa operação policial (quase cinematográfica) que diziam estar em curso e em convencer a todos
de que na verdade a ação policial se tratou de um golpe da direita para
desestabilizar a atual gestão reitora que possui uma tendência política à “esquerda”.
Vale lembrar que a maioria da correntes estudantis
de esquerda ajudaram a eleger a atual reitora atuando como cabos eleitorais e,
como é obvio, possuem uma relação de fidelidade baseada em interesses
institucionais dentro da UFSC.
Mesmo possuindo a conjuntura a favor do movimento, com
servidores em greve e professores em assembleia discutindo uma possível retomada
da greve, eles optaram pelo corporativismo e por um recuo pelego ao invés de
tentarem a unificação da luta dos três setores construindo uma greve conjunta. Por
fim, novamente falaram mais alto os interesses da esquerda reformista em
aparelhar movimentos objetivando manter e conquistar poder dentro das
instituições do estado burguês para acumular capital eleitoral. A ocupação da
reitoria terminou derrotada, pois somente foi conseguido que a reitoria
assinasse o recebimento de uma carta com as reivindicações, a qual a mesma
poderá tranquilamente ignorar, já que a ocupação, única arma que os estudantes
tinham, foi dissolvida. Tanto a ocupação da reitoria da USP quanto a da UFSC
nos mostram a necessidade da construção de um movimento estudantil classista, combativo
e autônomo que faça da ação direta sua arma diária de luta. Também escancararam
o papel pelego desempenhado pelo reformismo dentro do movimento estudantil no
Brasil, que no caso da UFSC se torna mais nocivo, já que a maioria das
correntes estudantis possui aliança declarada com a mesma reitoria que liberou
a entrada da policia no campus e também possui relação orgânica com agentes da
mesma policia fascista que violou a comunidade acadêmica no último dia 25 de
março, pois consideraram os mesmos como parte da classe trabalhadora.
Agora que não temos a ocupação para pressionar a reitoria
devemos ficar preparados para cobrir com toda solidariedade todos os camaradas
que forem intimados criminalmente e planejar ações diretas, pois com certeza a
repressão irá cobrar os carros tombados e a humilhante derrota imposta pelo Levante
do Bosque. Por isso não podemos nos desorganizar e deixar que novamente o
movimento seja aparelhado por organizações comprometidas em desmobilizar
movimentos nocivos aos seus interesses institucionais, seja na academia ou no
parlamento burguês. Por fim, devemos ter clareza de que a polícia que invadiu o
campus é a mesma policia que assassina Cláudias, Edsons e Amarildos todos os
dias. Com isso, se faz necessário construir desde já uma cultura de autodefesa
no movimento estudantil.
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